quarta-feira, dezembro 15, 2010

Olá Adeus

E foi com um "oi" que ele a viu pela primeira vez. Ela já o observava a meses, timidamente esperava um dia em que seus olhares se cruzasem. Depois daquele Oi, percebeu que sua saudação singela tinha uma força tremenda. Surpresa, nunca havia imaginado que o Oi continha o poder de atrair aventuras. Agora o usa com moderação, não sabe onde pode leva-la.

Inadvertidamente da última vez em que o viu, usou o "tchau". Uma interjeição muito comum, que aqui no nordeste é dita com x, Xau mesmo, sem medo do chiado. Mais uma vez foi surpreendida pelo poder da palavra. A intenção inicial era o cumprimento, afinal, ela estava indo embora e mal se falaram quando ele chegou. Tem medo de usar seus Oi's. "Sei lá, já estamos a tanto tempo separados, ele tem dona agora. Um tchau e só um beijinho, mais nada. Eu tenho que me comportar, não importam os meus impulsos mais vale a felicidade dele."

Coração acelerado, movimentos controlados pela prudência, o juízo gritando. Traçou uma rota segura e foi se aproximando. Provavelmente não propositalmente, ele saiu do caminho estabelecido. Teve que levantar o braço e fazer um sinal, ou melhor, um amigo viu seu desespero e avisou que ela queria falar. Já devia ter percebido que seus planos tinham ido por água a baixo, mas quem disse que ouviu o seu controlador juízo?

Ele virou, deu dois passos em sua direção, ela:
-Tô indo.
Num impulso, ele segura seu pescoço e cintura. No ligeiro do tempo, mil coisas passaram pela mente dela, "como é bom estar aqui", "e agora eu faço o que?", "me beija agora, por favor", "eu vou morrer no próximo segundo". Mudo estava, mudo ele ficou. E a moça... deu a bochecha ao beijo. O juízo deteve o óbvio e se meteu no meio da fala:
- Na bochecha.
Ah juízo maldoso, que ignora vontades e judia da libido. Espezinhando devagar a consciência anarquista. Percebendo ou não o seu esforço, ele beija a bendita bochecha esquerda e pergunta:
-Porque?
Mais uma vez, o juízo responde:
-Eu respeito quem não está aqui.
E saiu pensando desde quando isso é verdade? "Nunca respeitei estranhos, muito menos os que não estão presentes. E ainda tem mais, qualquer problema que surgisse era seu, não meu". Distante dalí, sua consciência retoma o controle e faz uma tentativa de explicar como uma ação tão simples pode se tornar um turbilhão de sins e nãos.

É simples, o movimento de chacoalhar a mão com a palma aberta na direção do outro é o mesmo, quando se chega e quando se sai. Sendo assim, o poder do Tchau pode ser tão grande ou até maior que o do Oi. Pobre e inocente consciência, não aprendeu com os Beatles." You say Yes, I say No. You say Stop but I Say Go, Go, Go.Oh No. I Don't Know Why you Say Goodbye. I Say Hello"

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